No Brasil a importação de extratos medicinais de Cannabis foi regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) através da RDC Nº 17/2015 após o Conselho Federal de Medicina (CFM), Resolução RE Nº 2.113/2014, autorizar a prescrição compassiva de canabidiol para tratamento de epilepsias refratárias aos tratamentos convencionais. Em 2016 a ANVISA incluiu na autorização de importação para uso médico pessoal, através da RDC 66/2016, a planta Cannabis sativa L., partes da planta e de seus compostos, incluindo o THC. Um ano depois foi registrado no Brasil o medicamento Mevatyl®, indicado para controle da espasticidade na esclerose múltipla, constituído por extrato hidroalcoólico de Cannabis sativa L. contendo 27 mg mL-1 de THC e 25 mg mL-1 de CBD, além
de outros canabinoides minoritários e terpenos.
Diversos compostos formados no metabolismo secundário desta planta são de interesse farmacológico, especialmente os canabinoides (terpenofenólicos). Os compostos majoritários são o ácido tetrahidrocanabinólico (THCA) e ácido canabidiólico (CBDA), que quando convertidos às suas formas neutras tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD), apresentam efeitos farmacológicos paradoxais no Sistema Nervoso Central. O THC é psicoativo com propriedades
euforizantes, enquanto o CBD é depressor com propriedades anticonvulsivante e ansiolítica.
O THC ainda apresenta efeito antiemético e analgésico e o CBD efeito antipsicótico e anti-inflamatório.
A Figura 1 apresenta os principais canabinóides de interesse em produtos farmacêuticos e que necessitam de controle de qualidade.

Métodos por cromatografia gasosa (CG) e CLAE são descritos na literatura para determinação de canabinoides em diferentes matrizes, além de outros métodos ainda pouco difundidos como a cromatografia em fluido supercrítico. Também se associa métodos de TLC?HPTLC para obtenção de perfis cromatográficos dos extratos vegetais.
Os métodos por CG, apesar de rápidos, robustos e muito eficientes, requerem
derivatização dos canabinoides ácidos pois o CG necessita de volatilidade e substâncias termicamente estáveis, pois opera com altas temperaturas para favorecer a separação e os canabinoides ácidos não atendem essa condição, necessitando de transformação química. A derivatização introduz erros, pois representa uma reação adicional prévia a análise, sendo essa um desvantagem associada ao CG.
Assim, quando a análise de canabinoides se destina ao controle de qualidade de produtos farmacêuticos e suplementos alimentares, os métodos por HPLC representam a melhor alternativa de análise, pois permitem a análise simultânea dos canabinoides ácidos e neutros, permitindo o controle de qualidade de extratos vegetais de Canabis sativa. A Figura 2 e 3 apresentam exemplos de cromatograma obtido por HPLC e CG, respectivamente.


O método a ser empregado precisa considerar a análise de CBD e THC para controle e proteção de fatores de saúde pública. Em vários países a presença de THC em produtos medicinais de Canabis é considerado proibido, sendo então o THC uma impureza que precisa ser controlada rigidamente.
A Tabela 1 apresenta algumas opções de métodos empregando a CG e a Tabela 2 destaca as principais condições a serem consideradas.


Canabinóides com grupos carboxílicos e descarboxilados podem ser detectados em cromatografia líquida em 228 nm, apesar da sensibilidade dos detectores UV e PDA serem menores do que outros.
A Tabela 3 apresenta algumas opções de métodos empregando a cromatografia líquida para análise de canabinoides.

Assim, a cromatografia líquida acoplada a espectrometria de massas (LC-MS) e a técnica tandem (LC-MS/MS) permitem desempenhos de destaque em termos de melhoria de seletividade e sensibilidade. Porém, é necessário o uso de padrões na forma de isótopos estáveis para permitir um melhor resultado quantitativo e melhores exatidões, contornando efeitos matriz. Entretanto, padrões deuterados de poucos canabinóides estão comercialmente disponíveis, como: THCA-d3, CBD-d3, THC-d3 e CBN-d3. Os padrões puros de canabinóides carboxilados tendem a ser instáveis em solução.
Em relação a técnica de ionização, tanto o eletrospray (ESI) quanto a ionização química a pressão atmosférica (APCI) podem ser usadas como interface no LC-MS, porém, em geral, somente gera-se as moléculas protonadas, sendo necessário o uso do LC-MS/MS para melhorar as características confirmatórias do método. Além disso, como os canabinóides contendo os grupos fenólicos e carboxílicos não são eficientemente ionizados por ESI e APCI, a sensibilidade da técnica de LC-MS é reduzida quando comparado com o método empregando a GC-MS.
A Tabela 4 apresenta um comparativo entre o limite de detecção e quantificação das diferentes técnicas de HPLC e GC para análise de canabinóides.

Os desafios ainda são recentes e como para qualquer amostra, devemos investir em desenvolvimento de métodos. Porém, os recursos e tecnologia hoje nos permitem muitas opções promissoras de estabelecer condições realmente seguras para o uso desta planta que apresenta tantas propriedades intrigantes e poderosas.
Se gostou do artigo, compartilhe!
Nos siga também nas redes sociais:
Se quiser saber mais sobre desenvolvimento de métodos nos procure